Depressão: por que é tão importante diagnosticar e tratar corretamente
Diagnóstico da Depressão no Brasil
É lamentável que somente 40% a 50% das pessoas com depressão irão receber o diagnóstico correto ao consultar em uma unidade básica de saúde. As demais seguirão sofrendo e sem tratamento e, possivelmente, aumentado as estatísticas dos suicídios no Brasil. A realidade pode ser ainda pior, pois somente 10% dos pacientes com depressão receberão o tratamento adequado pelo posto de saúde ou na atenção primária. O tratamento efetivo para depressão deve fazer com que os sintomas diminuam em mais de 70% e 80%. O objetivo do tratamento não é somente melhorar, mas sim buscar a remissão dos sintomas, o que evita a recorrência dos episódios depressivos.
Causas do Não Diagnóstico da Depressão
As causas para não se fazer o diagnóstico correto são muitas, dentre elas podemos citar o fato de que os profissionais médicos não concentram-se nos sintomas da depressão, como também pode partir do paciente, que muitas vezes não informa o problema emocional pelo preconceito, negando a depressão inconscientemente.
É preciso conhecer o problema, porém, mais importante é aceitar que depressão não é falta do que fazer ou fraqueza ética e moral, e sim uma alteração do funcionamento do cérebro que deve ser investigada e tratada adequadamente.
Frequentemente, ouço dos pacientes que eles evitam falar com a família e amigos sobre o fato de estarem com depressão, pois temem ser julgados como fracos ou desocupados. Infelizmente esse preconceito faz aumentar o sofrimento, visto que a pessoa se isola, afastando-se da possibilidade de pedir e receber ajuda.
Como a Depressão se Manifesta
Depressão, que é uma alteração do funcionamento cerebral, se apresenta na vida do doente ocasionando mudanças nos pensamentos, que focam-se no negativo, alterando o comportamento para a inibição. As emoções tendem à tristeza e ao desânimo.
Contudo, a depressão também pode se apresentar camuflada de queixas físicas, como: dores nas costas, cabeça, articulações, cansaço, tonturas, vertigem, zumbido, falta de ar, taquicardia e má digestão, para citar algumas formas de representar no corpo o desconforto do cérebro deprimido.
O Tratamento é Fundamental
Não há dúvidas de que a pessoa com depressão é grande agente da própria melhora. Por outro lado, negar o problema ou criticar alguém que tem depressão não tem eficácia alguma em seu tratamento.
I) Psicoterapia Cognitiva-Comportamental
A psicoterapia é uma das formas mais viáveis para alcançarmos a melhora dos sintomas da depressão e da ansiedade. O método da psicoterapia que evidencia a melhor resposta para estas síndromes é o cognitivo-comportamental.
Por meio de mudanças no comportamento e na forma de pensar do indivíduo, é possível alterar as emoções, ensinando a pessoa a se conhecer e se comandar; consequentemente, decidindo pelo o que é verdadeiro, útil e bom para si e aos outros.
Quando estamos plenos de nosso funcionamento não ficamos à mercê de nossas emoções, e podemos desfrutar de mais sabedoria e plenitude em nossas escolhas.
II) Psicoterapia Associada à Medicação
A resposta à melhora dos quadros de depressão e ansiedade é ainda mais eficiente quando associamos os dois métodos: psicoterapia e medicação. Esse tratamento associativo atua em locais diferentes do cérebro, o que é comprovado há mais de 10 anos e continua se confirmando em diferentes estudos.
É um ingênuo equívoco pensar que tomando as medicações adequadas para tratar a depressão e ansiedade a pessoa vai ficar dependente dos medicamentos; pelo contrário, se não tomar e não realizar o tratamento corretamente, o cérebro ficará dependente da doença, pois aquilo que ele treina fazer mais acaba fazendo melhor, ou seja, o sofrimento provocado por estas síndromes.
III) Estimulação Magnética Transcraniana
Atualmente, compreende-se que a depressão é causada pela alteração do funcionamento cerebral em determinadas regiões e já existe tratamento que atua localmente, mudando o funcionamento da área cerebral afetada. Este tratamento é chamado de Estimulação Magnética Transcraniana, sendo possível, através do campo magnético, ativar os neurônios e promover novamente a atividade cerebral normalizada.
Por que tratar?
Demonstrado já por vários estudos, o fato de não tratar as doenças mentais de forma adequada, faz com que a recorrência seja próxima de 80%; logo, quando o tratamento é realizado, a recorrência diminui para menos de 40%. Lembre-se que, se a saúde é cara, a doença é muito mais!
É impossível não sentir emoções desconfortáveis, como tristeza, ansiedade e medo, mas com o tratamento apropriado, via medicação certa e psicoterapia, conseguimos ostentar de forma plena nossas potencialidades, e assim viver nosso propósito de vida.
Cuidar e ser cuidado nos faz felizes!
É preciso falar sobre depressão e ter coragem de se expor como ser humano, no real sentido da palavra, pois nascemos frágeis e absolutamente incapazes e temos por toda existência a necessidade de cuidar e ser cuidado, isso em maior ou menor grau, dependendo da etapa da vida.
Dessa forma podemos nos desenvolver, tornando nossa vida ainda mais significativa ao ajudar os outros por meio da empatia e aceitação. Fazendo o bem ao outro, treinamos fazer o bem a nós mesmos. É impossível alguém ser verdadeiramente feliz sendo egoísta.
Nos estudos da felicidade, ajudar os outros é determinante para uma vida plena e feliz; porém, não há como ofertar o que não temos; primeiramente é necessário cuidar de nossos próprios desconfortos. Se deseja um mundo melhor, comece pelas suas inquietações e sofrimentos.
Depoimentos:
Matérias relacionadas:
Formas de expressão e vícios de linguagem
A investigação científica sobre a relação entre padrões linguísticos e transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão, tem proporcionado insights reveladores sobre a interconexão entre linguagem e saúde mental.
Saiba maisDepressão e ansiedade aumentam riscos de outras doenças
Estudo publicado no JAMA Network Open buscou comparar o risco e a taxa de acúmulo de condições crônicas em pessoas com depressão e/ou ansiedade comórbidas versus indivíduos sem depressão e ansiedade.
Saiba mais