A saúde mental durante a quarentena

O Psiquiatra Dr. Ricardo Zimmer foi convidado a falar sobre saúde mental durante a pandemia no programa Balanço Geral da NDTV. Confira a matéria na íntegra abaixo:

Leia a transcrição do vídeo:

Repórter:
Hoje vamos falar sobre saúde mental em tempos de pandemia. Como está a saúde mental do pessoal de Blumenau e região, Dr. Ricardo?

Ricardo:
Absolutamente estressados e ansiosos. Se alguém estiver sentindo muita irritabilidade, problemas com o sono, nervosismo e tensão, infelizmente, está tudo certo. Não está bom, mas está tudo certo.

Repórter:
Isso é normal, doutor? Não há como fugir desta regra? Porque as pessoas estão isoladas, em quarentena, com desemprego, com a pandemia e com a crise econômica... É uma série de fatores que acabam contribuindo para isso.

Ricardo:
Existe uma ameaça à integridade física, que é a ameaça da morte pela questão do Covid-19, e as ameaças das incertezas do mercado. Se você vai ter pra quem vender, se você vai ter trabalho, se você vai ter emprego... Isso somado ao confinamento e às mudanças de estilo de vida impostas com a nova realidade, geram o estresse e o corpo responde com esses sintomas de ameaça para lidar com um problema que é virtual, porque não temos uma ameaça consistente. Por exemplo, não é um ladrão entrando na nossa casa.
Então, as nossas ideias e os nossos pensamentos acabam produzindo essas angustias e tensões e as pessoas vão deprimir, estressar e nós vamos ter uma terceira onda da pandemia, que são os transtornos mentais, infelizmente.

Repórter:
E quais são as doenças mentais mais comuns agora, que estão sendo desencadeadas por causa da pandemia do Coronavírus e que virão nesta terceira onda?

Ricardo:
Infelizmente, nós vamos ter uma epidemia de suicídios. Em decorrência de quadros de estresse, ansiedade e, principalmente, depressão. Quanto antes as pessoas buscarem o tratamento adequado, se cuidar de verdade, fisicamente, fazendo atividades físicas, tomando remédios adequadamente, seguindo o acompanhamento médico... Dessa forma, conseguiremos amenizar muito o dano que vai ser gerado por toda essa situação que estamos vivendo.

Repórter:
Doutor, tem como prevenir essas doenças mentais? Principalmente a questão do suicídio?

Ricardo:
Sim, principalmente tratando a depressão. 98% dos suicídios podem ser evitados, desde que a pessoa trate o quadro de depressão.
Praticamente toda pessoa que tenta suicídio está deprimida. Cerca de 98% delas. Às vezes, elas não vão estar tão deprimidas quanto achamos que elas "tem que estar", naquela situação de não sair mais da cama. Às vezes, é no início do quadro de depressão que se tem uma tendência de ter mais tentativas de suicídio.

Repórter:
Quais são as diferenças da tristeza para o início da depressão ou pra essa angústia, essa situação que leva a gente para uma futura depressão?

Ricardo:
A diferença é muito sutil, muito tênue. Vamos pensar assim: se você tem uma tristeza que te aflige, com uma nota de zero a dez, está em três ou quatro, e que não atrapalha o seu nível de funcionamento, isso é tristeza. Agora, se você tem uma tristeza que passa de uma nota cinco ou seis, que a pessoa chega a pensar que seria melhor morrer para parar de sofrer, essa já é uma tristeza da depressão.
Claro que não é apenas com esses sintomas que se faz o diagnóstico. Você vai ter outras mudanças, como no comportamento, nas emoções e também nos pensamentos. Mas aí é preciso procurar um psiquiatra para fazer o diagnóstico adequado e receber o tratamento.

Repórter:
Em que momento as pessoas devem procurar um médico, alguma consulta ou uma ajuda de um profissional da área da psiquiatria, da psicologia? Quais os sinais que o nosso corpo, nossa mente, dá para procurarmos uma ajuda médica?

Ricardo:
Se você está dormindo mal, por exemplo. Se os sintomas duram mais do que duas semanas ou se você dá uma nota de intensidade pra eles maior que sete ou oito. Nesses casos é adequado procurar algum profissional.
O problema é que, quando o quadro piora, piora também a percepção, a autocrítica. E dessa maneira, a pessoa não vai notando que está ruim. Ela vai levando, "empurrando com a barriga", como se diz. E aí, quando vê, a doença já está crônica e mais grave. Então, quanto antes puder buscar o tratamento e seguir adequadamente ele, melhor é a evolução.
"Preguiçoso tem trabalho dobrado". Inclusive nesses casos. Quando a pessoa não segue direito o tratamento, não faz as mudanças do estilo de vida, não dá atenção a esse chamado ao auto-cuidado, isso acaba prejudicando a médio e longo prazo a vida como um todo e também traz, às vezes, outros problemas de saúde, porque o estresse, a ansiedade e a depressão baixam o sistema imunológico e levam a outras doenças também.

Repórter:
Pensamento positivo, fazer coisas que deixam a gente bem, mesmo em casa, em isolamento, tentar procurar ler um livro, assistir um filme, ver coisas boas na televisão, também assistir o jornal, ficar informado... Fazer coisas que deixam a gente feliz ou, pelo menos, tentam deixar a gente feliz, isso pode prevenir uma depressão, uma doença mental? Como funciona isso? Ou pode, muitas vezes, até disfarçar esse problema mental e a pessoa acha que está feliz, mas não está? Como funciona isso?

Ricardo:
Absolutamente certo. Ser otimista é uma opção. Entender que as coisas vão passar é um fato, é parte da realidade. Então, podemos optar por entender que as coisas ruins vão passar e sempre focar nos pontos positivos.
Existe um treino de gratidão, de agradecer todos os dias três coisas e pensar no porquê de estar agradecendo a isso. Às vezes, se temos só tem a nossa vida ainda, podemos agradecer por isso. E, principalmente, enxergar as adversidades como algo a ser aprendido, algo que ajuda você a se desenvolver.
O ideal é aceitar o que ocorre, no sentido de não dar "soco em ponta de faca". Então, existe uma pandemia, existe um vírus? Sim, existe. O que eu posso fazer com isso? Nada, eu não consigo mudar esse vírus, mas eu posso me exercitar mais, aprender a meditar, respeitar minha necessidade do sono, parar de fumar, diminuir a ingestão de bebida alcoólica, focar nos pontos positivos da vida, buscar informações valiosas, que me façam crescer como pessoa e não reforçar o medo. Não acredite no medo. O medo conta uma história muito catastrófica, mas a humanidade já passou por coisas piores e nós vamos dar conta disso também. Acreditar que nós podemos lidar com isso e que vai passar. Isso é uma postura interna pra lidar com a vida e entender que, se acontece, tem um sentido maior e nós podemos aprender alguma coisa com isso.
Ter essa esperança, no sentido de esperar que vai mudar, e fazer tudo aquilo que pode ser feito para mudar, ajuda muito para sair dessa tristeza, do desânimo, e diminuir a ansiedade.

Repórter:
Para a gente encerrar: automedicação. O doutor falou em determinado momento da entrevista sobre a questão de a pessoa ter que tomar os remédios da forma correta. Mas quais são os perigos da automedicação? E quais os cuidados que a pessoa deve ter em relação a isso?

Ricardo:
Se você está dormindo mal, não adianta usar um medicamento tarja preta ou alguma medicação pra isso, porque você está "tratando a febre e não está tratando a infecção". Então, é preciso tratar a causa base. Infelizmente, a gente tem, muito no mercado negro, a venda dos faixas pretas para pessoas conseguirem relaxar de noite e dormir. Tratar a causa que está gerando esse problema, por exemplo, da insônia.
A diferença entre um remédio e um veneno é a concentração, a indicação do uso. E é por isso que é preciso mesmo tomar cuidado com isso e acompanhar um médico para que se tenha o diagnóstico certo para se usar o remédio adequado. Se não, à vezes, a gente vai tentar usar um sapato que não serve no nosso pé e isso vai acabar machucando e nos limitando na jornada que temos que ter nessa vida de auto-desenvolvimento. E sempre acreditar que tem alguma coisa melhor a ser feita, isso ajuda muito. Essa fé no positivo é muito adequada de se lembrar. As coisas sempre vão passar e vão melhorar, de um jeito ou de outro.

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